Denise, a voz do Soul unida com as batidas do Hip Hop
- MySweeterPlace
- 24 de jan. de 2022
- 6 min de leitura
Combina duas paixões distintas na sua musicalidade. No Soul reside a sua paixão e no Hip hop explora a criatividade na escrita e melodia. Quando se tornam num só, “é a raiz do que sinto e do que amo.”

“Considero-me uma voz Soul mas que explora sonoridades mais “Hip hop”, porque na verdade eu não sou rapper, nem acredito ter grande skill para isso (risos).” Quem o diz é Denise Fernandes Sabença ou apenas Denise, nome artístico que definiu. O seu trabalho chega até ao público em 2012, com a mixtape, “SoulNoise.” “ (…) Nem imaginava o trabalho árduo que me esperava mas a necessidade e a urgência em materializar os meus sentimentos era tanta, que todo o percurso duro passou para segundo plano, tudo girava em volta de um sonho a concretizar (…) ”, conta a artista de 36 anos, natural de Vila Nova de Gaia, em exclusivo ao My Sweeter Place.
Paralelamente, emprestou a voz em refrões de rappers nacionais. Exemplos dessas faixas são, entre outras não listadas, “EXAUSTO PLANETA” (Barrako 27); “De que forma” (Johnny Virtus); “Visões sem Lateral” (Kaines); “Nasci Pra Tar No Palco” (Wack) e “Queres Ser Feliz?” (Tnt e Beware Jack.) Subiu ao palco como artista convidada da manager da rapper americana Reverie, em 2013, e abriu o concerto de Dillaz no Armazém do Chá, na cidade do Porto, em 2014, eventos que lhe permitiram estar mais de perto com aqueles que começavam a admirar as suas músicas e o estilo pelo qual se definia e define até hoje.

Em 2013 editou a mixtape “Todavia” para download gratuito e um ano depois surge “Episódios à Parte”, um trabalho que difere ligeiramente do primeiro projeto lançado pois aborda temas “ (…) mais amplos e com várias visões (…). Assumi uma linguagem mais madura mas ainda assim bastante metafórica”, explica a artista. Nasce também o videoclipe “Força em mim”, a 26 de outubro de 2014, alcançando uma maior projeção. Mais tarde, em novembro, a mixtape “Ser Humano por uma causa”, reuniu outros artistas nacionais, com uma clara missão subjacente: “ (…) ajudar quem mais precisava naquele momento, uma causa justa e nobre concretizada com sucesso.”
O caminho que traçara até então conduziu-a a uma carreira a solo. Em 2015 surge a sua primeira EP, “Angorá.” O pré lançamento ocorreu a 8 de Dezembro de 2015, uma edição limitada em lojas físicas, juntamente com o vídeo do primeiro single “Outra Margem”, primeira amostra escolhida por ser “Uma mensagem direta e honesta sobre o que sou (…).” O nome escolhido para a EP deriva de duas conexões distintas. “ (…) A primeira, porque é uma raça de gatos e eu sou apaixonada por animais e em segundo, porque a lã Angorá é a mais pura de todas e, dando destaque ao mote da pureza, transportei essa palavra vincada para a EP, porque era até ao momento o trabalho mais puro que tinha concretizado, abrangendo também a composição, criação e todas as parte inerentes na sua criação (Artwork, lettering, imagens, booklet, etc)”.
“Angorá” apresenta 7 faixas É um trabalho que reúne músicas positivas sobre amor, amor-próprio e aceitação, todas elas escritas pela artista. Aliás, na música “Outra Margem”, Denise canta ”escritores fantasma, eu não preciso porque me dou atenção”, sem descartar, contudo, a possibilidade em cantar letras feitas por outros autores no futuro. As faixas foram escritas e produzidas “ (…) à medida que a vontade de concretizar esta EP se tornava irreversível. Não foram planeadas de forma minuciosa, foram escritas de forma leve mas comprometida (…).” O projeto marca um grande passo no percurso de Denise, uma etapa finalizada com sucesso, mas que pelo meio, teve alguns contratempos. “Eu desenvolvo um sentimento agridoce com este trabalho (…) houve muita dedicação de todas as partes e eu tenho imenso orgulho no que todos construímos, mas em simultâneo houve vários contratempos ao longo da criação, o que me faz recordar este trabalho como uma grande vitória contra todas as adversidades que foram aparecendo, ao que chamo as pedras do caminho que, em boa verdade, é mais que normal que elas apareçam.” No entanto, o sentimento que permanece é o de glória. “ (…) Assumi este trabalho como mais uma etapa cumprida, algo a que me submeti, conclui e materializei.”

Dois anos depois, em dezembro de 2017, surge a mixtape “Hellas”, que reúne outras artistas femininas: Spitz, Chininha, Lady N, Chikita, Landisch, Kika G, Miss2Shae e Shiva. "Este projeto é de facto algo que me orgulho muito de fazer parte, não só por ser mulher na cultura Hip hop, como por todas as outras mulheres e artistas que prestaram o seu contributo ao projeto.” Nela foram abordados vários temas, escolhidos livremente por cada uma das integrantes. “Mana”, a faixa criada por Denise, é “ (…) um tema de encorajamento, empoderamento, dissipação de dúvidas (…) ”. E qual a mensagem por detrás? "[“Entre o céu e o inferno, nós vivemos lá no meio”] ou seja, conseguimos ser 1001 coisas e no meio de tanta coisa para fazer, se conseguirmos um momento que seja para fazer o que mais amamos, que assim seja, porque o que amamos não deve, por um segundo que seja, ser desvalorizado."
“Bárbaros os que destroem os teus sonhos a troco de nada”
Faixa "Mana", em "Hellas"
Seguimos para 2019, com a colaboração, “Nasce um novo dia”, que junta três artistas brasileiros e um beatmaker e três artistas portugueses e a isso se chama uma celebração da língua em uníssono. Esta canção vem no seguimento do projeto ”Terra do Rap”, de Vinicius Terra.“ (…) Sempre fez questão que nem terra nem oceanos separassem os países de Língua Oficial Portuguesa e com isso, a convite dele, em 2016, estive no Brasil, falei do meu percurso, houve concertos, workshops, partilhamos vivências e métodos. Nesse ano, eu e os outros artistas convidados decidimos fazer uma música para que esse momento fosse um marco.”
Após “Angorá", Denise apresenta-nos “Tom de Voz”, a 5 de maio de 2021, uma reflexão sobre os altos e baixos de uma relação. Um mês depois, lança “Ciclo Viciado”, a 18 de junho. Estas duas faixas, são até agora, aquelas em que se denotam letras mais melancólicas. “Esses temas falam de desamores ou até mesmo de relações falhadas, muita coisa me inspira e nem sempre retrato o que vivo, muitas das vezes baseio-me em histórias de pessoas próximas de mim. E felizmente, estes temas não retratam a minha vida pessoal amorosa, foram feitos ao sabor do instrumental. “
“O meu processo criativo tem algumas curiosidades e métodos e às vezes até rituais, daí não se deve assumir que sou (sempre) eu a personagem principal do tema que canto.”
“Nuvens” é o single mais recente, lançado a 10 de dezembro de 2021. Fala em assumir o que se sente e ser transparente. E Denise também se identifica com esses traços de personalidade. “ (…) Considero-me simples na abordagem, um misto de espontaneidade com timidez. Tenho feito um esforço para assumir letras mais diretas, sem tanto enredo ou varias ilações, tenho-me desafiado nas sonoridades, sinto imensa vontade de experimentar vários tipos de instrumentais que logo à partida diriam que não seria para mim, dá-me imenso gozo fazer isso.” Estas últimas cançõessão como um (re)aparecimento mas a artista revela, em primeira mão que “(…) tenho bastante material finalizado, quem sabe um álbum? Se não vier um álbum, assumo que terão música minha para muito muito tempo, muita coisa para escutar” E é isso que queremos ler, aguardando ansiosos por ouvir.
Tayob Juskow é um nome que acompanha a sua carreira ultimamente. Produtor, compositor e músico, esta conexão “ (…) remonta a 2013, numa ida minha a Lisboa para cantar com os HMB. Ele insistiu que queria tomar um café e falar um pouco de música (Ele já me seguia no soundcloud) e assim foi, a partir daquele dia houve algo que nos conectou sem separação possível. (…) Sonhamos juntos, rimos imenso no meio de tanta coisa séria, na verdade acabamos por crescer um pouco mais juntos na nossa musicalidade e hoje não vejo a minha vida sem ele, como amigo e como artista.” No futuro, anseia juntar outros produtores ao seu repertório, mas isso já é segredo. “ (…) até tenho uma lista no telemóvel e várias vezes vou lá só relembrar que um dia hei de conseguir “fechar” aquela colaboração.", confessa.
“Sinto-me muito bem neste momento com o trajeto que estou a fazer e a direção que estou a tomar. (…) Não deixo de ser eu, houve apenas um “refrescamento” na minha musicalidade, até lhe chamo uma sonoridade híbrida, porque vai “beber a várias fontes”, imaginemos que é uma Denise 2.0.”
“Soul” significa alma e "(...) é o que me faz suspirar, que me completa, que mexe comigo de uma forma transcendente.” Lauryn Hill, Maxwell, Angie Stone, Dwele, Amy Winehouse, entre outros, fazem parte dos seus artistas favoritos que houve e aprecia. Em Portugal, na sua opinião, "(...) Temos bons nomes de artistas portugueses que fazem uma boa representação da Soul music, e isso para mim já é motivo de grande orgulho. Reconheço-lhes mérito e coragem, porque para mim. Nada melhor que um artista ser fiel ao que sente e interpretar o que realmente o faz sentir pleno”, finaliza.

Quanto às novidades, ainda neste mês de janeiro, podemos ouvir uma versão acústica de um tema que ainda não foi editado. No próximo mês de fevereiro há música nova, “Seguimos pela Metade", produzido por Fellaz. Posteriormente, saíra também a compilação “Hellas", com edição física limitada. Um projeto com um núcleo de peso que inclui 19 faixas e 20 artistas portuguesas.
Comments